Endometriose: Uma Epidemia Invisível Que Afeta Milhões de Mulheres

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Diagnóstico tardio e falta de acolhimento agravam a situação das pacientes

A endometriose é uma condição inflamatória que afeta aproximadamente 1 em cada 10 mulheres em idade reprodutiva, mas os diagnósticos ainda são tardios, levando muitas a anos de sofrimento sem tratamento adequado. A falta de informação, a precariedade na formação dos profissionais de saúde e a pouca acolhida das queixas femininas resultam em um quadro alarmante para a saúde da mulher.

Março: O Mês de Conscientização Sobre a Endometriose

O mês de março foi escolhido pela Associação de Endometriose, em 1993, como período de conscientização sobre a doença. A endometriose ocorre quando um tecido semelhante ao endométrio, que reveste o útero, cresce fora do órgão, provocando inflamação, aderências e dores intensas. Os órgãos mais afetados são os ovários, as trompas de falópio e o revestimento da pelve, mas a doença também pode atingir intestinos, bexiga, pulmões e, em casos raros, o cérebro.

Entre os sintomas estão:

  • Dores pélvicas intensas e cólicas menstruais incapacitantes;
  • Sangramento irregular ou abundante;
  • Problemas digestivos como inchaço, diarreia ou constipação;
  • Dores durante a relação sexual;
  • Infertilidade ou dificuldades para engravidar;
  • Fadiga e mal-estar generalizado.

Diagnóstico Difícil: Por Que as Mulheres Esperam Tantos Anos?

Embora a endometriose afete milhões de mulheres, o tempo médio para o diagnóstico ainda é de cerca de 10 anos, segundo a especialista em cirurgia minimamente invasiva de endometriose, Dra. Lora Liu. Isso ocorre porque muitos profissionais de saúde minimizam os sintomas, interpretam-nos como “normais” ou os confundem com outras condições, como síndrome do intestino irritável, cistite intersticial e disfunção do assoalho pélvico.

Outro entrave é o fato de que o diagnóstico definitivo requer uma cirurgia minimamente invasiva, a laparoscopia, para retirada e análise do tecido endometriótico. “Muitas vezes, exames de imagem não identificam os focos da doença, pois os implantes podem ser microscópicos. Quando os exames são negativos, as pacientes são informadas de que estão saudáveis, o que leva muitas a desacreditarem da própria dor”, explica Liu.

O Gaslighting Médico e o Preconceito de Gênero na Saúde

Um dos principais desafios no reconhecimento da endometriose é o chamado “gaslighting médico”, situação em que as queixas femininas são minimizadas ou ignoradas. A coach de saúde feminina Nicole Jardim, autora do livro Fix Your Period, explica que o preconceito de gênero na medicina perpetua a ideia de que as mulheres são “exageradas” ou “histriônicas”, dificultando o diagnóstico precoce de várias condições femininas, incluindo a endometriose.

“O desconhecimento sobre a anatomia e fisiologia feminina, aliado ao estigma cultural em torno da menstruação, faz com que muitas mulheres tenham seus sintomas desconsiderados”, afirma Jardim.

Chelsea Leyland, DJ e fundadora da Looni, empresa que desenvolve suplementos para a saúde menstrual, vivenciou esse descaso em primeira mão. “Desde a adolescência, eu tinha dores insuportáveis, chegando a desmaiar e vomitar. Desenvolvi ataques de pânico porque, além da dor, minhas mãos ficavam travadas e eu pensava que teria uma convulsão. Durante anos, meu médico me dizia que era ‘normal'”, relata. Dez anos depois, finalmente foi diagnosticada e submetida à cirurgia, mas os sintomas retornaram. “Foi quando decidi buscar alternativas e ajudar outras mulheres a não passarem pelo mesmo que eu passei”.

Como Buscar Diagnóstico e Tratamento?

Se você suspeita que pode ter endometriose, algumas estratégias podem ajudar a acelerar o processo de diagnóstico e tratamento:

  • Registre seus sintomas: anote a intensidade e frequência da dor, relação com o ciclo menstrual e impacto na sua vida.
  • Pesquise e se informe: entender a doença ajuda a argumentar melhor com profissionais de saúde.
  • Busque um especialista: ginecologistas especializados em endometriose têm mais conhecimento sobre exames e abordagens terapêuticas.
  • Leve alguém para as consultas: ter um acompanhante pode ajudar a reforçar suas queixas e garantir que você seja ouvida.
  • Questione os tratamentos oferecidos: algumas abordagens, como o uso indiscriminado de anticoncepcionais, podem mascarar os sintomas, mas não tratar a doença.
  • Considere o suporte emocional: comunidades e grupos de apoio ajudam a trocar experiências e encontrar acolhimento.

Segundo a Dra. Liu, é essencial que as mulheres se conscientizem de que “cólicas intensas, ausências frequentes no trabalho ou escola por dor, visitas recorrentes ao pronto-socorro e dor durante a relação sexual não são normais”.

A endometriose é uma doença real, com consequências graves, e precisa ser levada a sério. O caminho para mudança passa pela educação, pelo aprimoramento da formação médica e pela valorização das queixas femininas. O primeiro passo é acreditar na própria dor e buscar ajuda adequada.

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