Mais Diplomas, Menos Poder: Mulheres São Maioria nas Universidades, Mas Minoria no Topo

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Menos de 40% dos cargos gerenciais no Brasil são ocupados por mulheres, mesmo com elas liderando o número de concluintes do ensino superior.

Apesar de serem maioria entre os estudantes universitários e representarem 60,3% dos concluintes do ensino superior, as mulheres ainda enfrentam barreiras significativas para alcançar posições de liderança e poder. Dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), divulgados neste ano, revelam que apenas 39,3% dos cargos gerenciais no Brasil são ocupados por mulheres.

A presença feminina se destaca majoritariamente nas áreas tradicionalmente associadas ao cuidado, como educação (69,4%) e saúde e serviços sociais (70%). Já em setores como agricultura, pecuária, engenharia florestal, aquicultura e pesca, elas ocupam apenas 15,8% dos cargos de liderança.

Segundo a pesquisadora Bárbara Cobo, essa distribuição evidencia como a divisão de gênero ainda está profundamente enraizada no mercado de trabalho: “As mulheres ocupam mais posições de gerência justamente onde já predominam em número, como educação e saúde, perpetuando a lógica de que elas pertencem aos setores do cuidado”.

Desigualdade também na remuneração

A disparidade de gênero não está presente apenas na ocupação de cargos, mas também nos salários. Executivas brasileiras recebem em média 78,8% do salário dos homens na mesma função. E mesmo nas áreas em que superam os homens em remuneração, como agricultura (128,6%), saneamento (109,4%) e atividades administrativas (107,5%), esses dados podem refletir uma entrada recente e mais qualificada das mulheres, segundo especialistas.

No entanto, as maiores diferenças salariais negativas estão nos setores de transporte, armazenagem e correio (51,2%) e saúde (60,9%), justamente onde a presença feminina é mais significativa.

Participação política e no Judiciário também é limitada

O cenário se repete no setor público. Em novembro de 2023, apenas 17,9% dos deputados federais eram mulheres, colocando o Brasil na 133ª posição entre 186 países no ranking de participação feminina no parlamento. Apesar de um crescimento tímido desde 2020 (quando eram 14,8%), os números ainda revelam uma ampla sub-representação.

Nos poderes locais, apenas 12,1% dos municípios elegeram prefeitas em 2020 — sendo a maioria delas brancas — e 16,1% dos vereadores eleitos eram mulheres.

No Executivo federal, o quadro também é desigual: dos 38 ministérios com status equivalente, apenas nove eram liderados por mulheres em novembro de 2023.

No Judiciário, o avanço foi mais significativo, mas ainda insuficiente. Segundo o CNJ (Conselho Nacional de Justiça), as mulheres representavam 40% da magistratura em 2022, contra 24,6% em 1988. No STJ (Superior Tribunal de Justiça), no entanto, ainda são apenas 23%.

Educação: liderança feminina não garante valorização

No campo da educação, as mulheres seguem se destacando: entre os brasileiros com 25 anos ou mais, 21,3% das mulheres concluíram o ensino superior, contra 16,8% dos homens. A diferença é ainda mais expressiva entre mulheres brancas (29%) e pretas ou pardas (14,7%), revelando uma intersecção crítica entre gênero e raça.

A pesquisadora Betina Fresneda aponta que, apesar do avanço educacional, muitas das áreas escolhidas pelas mulheres são menos valorizadas financeiramente. “Elas concluem o ensino superior numa proporção maior do que os homens, então supostamente deveriam ter uma média salarial maior. Mas, como estão concentradas em cursos ligados ao bem-estar, como pedagogia e enfermagem, acabam sendo subvalorizadas no mercado de trabalho”, explica.

Nos cursos de ciência e tecnologia, que englobam engenharia, TI, matemática e estatística, apenas 22% das concluintes são mulheres. A baixa presença em áreas mais bem remuneradas e a dificuldade de ascensão a cargos de liderança perpetuam um ciclo de desigualdade, mesmo com maior qualificação.

Desafio estrutural

O retrato é claro: o avanço na educação não tem se traduzido em poder ou remuneração equivalente. As mulheres continuam enfrentando barreiras culturais, estruturais e institucionais que dificultam seu crescimento profissional, mesmo quando possuem mais títulos acadêmicos do que os homens.

Para romper esse ciclo, especialistas defendem políticas públicas de inclusão, revisão de estruturas de poder nas empresas e valorização das áreas dominadas por mulheres. A luta pela equidade de gênero, portanto, vai muito além do acesso à educação — ela exige uma mudança profunda nas dinâmicas do mercado de trabalho e da representação política no Brasil.

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