Papa Francisco: A Voz que Levantou as Mulheres Dentro e Fora da Igreja

Compartilhe este conteúdo:

Ao longo de seu pontificado, Francisco enxergou nas mulheres a esperança para um mundo mais humano e pacífico.

O Papa Francisco, que faleceu na última segunda-feira (21), aos 88 anos, deixa um legado marcado pela defesa dos direitos humanos, da inclusão e, especialmente, da valorização das mulheres na sociedade e na Igreja Católica. Primeiro papa latino-americano da história, Francisco destacou-se como uma voz progressista em um ambiente tradicionalmente conservador.

Em seu discurso de Ano Novo, em 1º de janeiro de 2024, o pontífice declarou: “O mundo precisa olhar para as mães e para as mulheres para encontrar a paz, para sair da espiral de violência e ódio, e mais uma vez ver as coisas com olhos e corações genuinamente humanos”. Francisco ressaltou a importância da sensibilidade feminina para a construção de uma sociedade mais justa e pacífica, destacando atributos como a paciência, o cuidado, a coragem e a preocupação com o próximo.

No final do mesmo ano, em uma aparição pública no Vaticano, ele voltou a condenar a “cultura machista” e reforçou: “Não vamos nos esquecer: quem leva o mundo adiante são as mulheres”. Segundo Francisco, são as mulheres que, com sua sensibilidade única, sustentam famílias, comunidades e povos.

Mais mulheres em cargos de liderança no Vaticano

A defesa da igualdade de gênero por parte do papa não ficou restrita aos discursos. Desde o início de seu pontificado, em 2013, Francisco promoveu avanços concretos para a presença feminina no Vaticano. Quando assumiu, as mulheres representavam 19,2% do quadro de funcionários da Santa Sé. Em 2023, esse percentual subiu para 23,4%.

Entre as principais mudanças promovidas por Francisco, destacam-se a nomeação de mulheres para cargos de liderança, antes reservados exclusivamente aos homens. Em janeiro de 2024, nomeou a irmã italiana Simona Brambilla como prefeita do Dicastério para os Institutos de Vida Consagrada e Sociedades de Vida Apostólica — o primeiro cargo de alta chefia a ser ocupado por uma mulher.

Além disso, indicou mulheres para posições estratégicas em outros departamentos, como o Dicastério para o Desenvolvimento Humano Integral e o Dicastério para os Leigos, Família e Vida. Também nomeou Barbara Jatta como a primeira diretora dos Museus do Vaticano, em 2016. Em entrevista concedida em 2022, Francisco afirmou: “Percebi que cada vez que uma mulher recebe um cargo de responsabilidade no Vaticano, as coisas melhoram”.

Apesar de manter a posição tradicional da Igreja contra a ordenação feminina, o pontífice ampliou o espaço de voz e de influência das mulheres dentro da estrutura eclesiástica, incluindo o direito de voto nas assembleias globais de bispos.

Denúncia contra a violência de gênero

Outro ponto marcante do pontificado de Francisco foi a denúncia enfática da violência contra a mulher. Durante a pandemia de Covid-19, quando os casos de violência doméstica cresceram em todo o mundo, o papa classificou essa prática como uma “afronta a Deus” e uma “vergonha para a sociedade”.

Em nota de pesar divulgada na segunda-feira, o Ministério das Mulheres do Brasil homenageou o papa como um símbolo de “humanidade e acolhimento às pessoas menos favorecidas e excluídas da sociedade”, destacando sua firme condenação à violência contra mulheres, que ele chamou de “uma erva daninha venenosa que deve ser eliminada pela raiz”.

Um pontífice que quebrou barreiras

Francisco também inovou nas práticas litúrgicas, ao incluir mulheres, muçulmanos, ateus e não cristãos na tradicional cerimônia do Lava-pés da Quinta-feira Santa — um gesto de humildade que ele já realizava quando era arcebispo de Buenos Aires. Em 2024, aos 87 anos, ele visitou a prisão feminina de Rebibbia, em Roma, onde celebrou a missa da Quinta-feira Santa, lavando e beijando os pés de mulheres encarceradas.

O papa rompeu com a tradição de realizar a cerimônia apenas em igrejas, levando-a para presídios, asilos e hospitais, em um claro gesto de aproximação com os marginalizados.

Um legado de inclusão e esperança

O Papa Francisco será lembrado como uma liderança espiritual que buscou aproximar a Igreja do mundo real, tornando-a mais acolhedora, inclusiva e sensível às dores da humanidade. Sua defesa incansável pelos direitos das mulheres, dos pobres e dos marginalizados reforça o impacto de seu legado, que ultrapassa fronteiras religiosas e culturais.

Enquanto o mundo se despede de Francisco, suas palavras continuam ecoando como um chamado à ação: valorizar a dignidade humana em todas as suas formas — e reconhecer, de forma especial, o papel fundamental das mulheres na construção de um futuro mais humano e pacífico.

Compartilhe este conteúdo: