Um levantamento realizado pelo Think Eva, consultoria especializada em inovação social e gênero, em parceria com o LinkedIn, trouxe à luz dados alarmantes sobre o assédio sexual enfrentado por mulheres no ambiente de trabalho, tanto presencial quanto virtual. Os resultados da pesquisa, divulgados ontem (6), apontam que uma em cada seis mulheres pede demissão após sofrer assédio sexual no trabalho.
A pesquisa ouviu 381 mulheres brasileiras usuárias da internet para avaliar percepções e experiências sobre o tema. Quase metade das entrevistadas (47,12%) revelou já ter sido vítima desse tipo de violência no contexto profissional. Entre as vítimas, destacam-se mulheres negras (52%) e trabalhadoras com renda entre dois e seis salários mínimos (49%). As regiões Norte (63%) e Centro-Oeste (55%) registraram maior incidência de relatos.
Perfil das vítimas e impacto profissional
Os cargos mais mencionados pelas mulheres vítimas de assédio são assistente (32,5%), posições pleno ou sênior (18,6%), estagiária (18,1%) e júnior (13,4%). Apesar de serem minoria em posições hierárquicas superiores, mulheres nessas funções não estão imunes: 60% das gerentes e 55% das diretoras afirmaram já terem sido assediadas.
A consequência do assédio sexual vai além da perda do emprego. Os impactos psicológicos são graves, incluindo medo constante e dificuldade de concentração (35%), desânimo e cansaço (32%), queda na autoconfiança (30%), sintomas de ansiedade e depressão (28%), isolamento dos colegas (23%) e redução da autoestima (22%).
Barreiras para denúncia e o papel do RH
Embora 95,3% das mulheres tenham consciência sobre o que constitui assédio sexual, o caminho até a denúncia ainda é repleto de barreiras. A pesquisa indicou que 78,4% das entrevistadas apontam a impunidade como principal obstáculo para denunciar, seguida por políticas ineficientes das empresas e medo de retaliações, ambos com 63,8%. Cerca de metade das vítimas prefere dividir o ocorrido apenas com pessoas próximas, enquanto 33% não fazem nada a respeito e apenas 5% recorrem ao RH.
Maíra Liguori, diretora de impacto da Think Eva, destaca que o assédio sexual era anteriormente “naturalizado e legitimado” no ambiente profissional. “Graças às campanhas e ao ativismo de muitas mulheres, começamos a enxergar este comportamento como violência de gênero que causa danos profundos. Mas as empresas ainda encontram dificuldades em assumir sua responsabilidade e implementar mudanças efetivas”, afirma Liguori.
Situação agravada pela pandemia
Dados recentes reforçam que o cenário do mercado de trabalho para as mulheres piorou significativamente após a pandemia. Uma pesquisa do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) mostrou que a participação feminina no mercado é a menor dos últimos 30 anos, aumentando a vulnerabilidade das trabalhadoras e reforçando o medo de denunciar episódios de assédio sexual.
Ambiente digital e ações do LinkedIn
O LinkedIn, principal plataforma profissional do país, também realizou um levantamento complementar com 1.600 participantes. A rede recebeu uma nota média de vulnerabilidade de 2,32 em uma escala de 1 a 5, significativamente menor que outras plataformas, como Facebook (4,13), Instagram (4,12), WhatsApp (4,08) e Twitter (3,29). Contudo, 13,4% das usuárias relataram terem sofrido assédio sexual também no LinkedIn, principalmente via mensagens privadas (61%) e comentários públicos (50%).
Em resposta a esses dados, o LinkedIn intensificou suas políticas e lançou iniciativas para criar um ambiente profissional mais seguro. Dentre as ações, destaca-se a campanha “Trabalho sem Assédio”, que propõe a adoção de medidas preventivas, além de aprimorar suas ferramentas de denúncia com o uso de inteligência artificial para identificar e bloquear mensagens abusivas antes mesmo de serem vistas pelas destinatárias.
“Nosso objetivo é incentivar lideranças empresariais e influenciadores a assumirem um compromisso público contra o assédio, criando um ambiente mais seguro para todas as profissionais”, afirmou Ana Plihal, executiva do LinkedIn Brasil responsável pelas soluções de talentos e líder do Comitê de Mulheres da empresa.
A iniciativa também inclui campanhas educacionais periódicas e novos mecanismos para que as vítimas possam acompanhar o resultado das denúncias realizadas, garantindo mais transparência e confiança no processo.