Mesmo considerando a disciplina igualmente importante, ambiente doméstico reforça desigualdade de gênero em STEM
Um estudo publicado na Developmental Psychology revelou que pais de crianças entre 1 e 6 anos dedicam mais tempo a atividades matemáticas com filhos meninos do que com filhas — mesmo acreditando que a disciplina é igualmente importante para ambos. A pesquisa, que analisou 929 famílias, expõe uma contradição entre discurso e prática e ajuda a explicar por que meninas continuam sub-representadas em carreiras de ciências e tecnologia.
Principais Achados do Estudo
Atividades com números: Pais ensinam mais contagem e identificação numérica a meninos (especialmente aos 6 anos).
Medições práticas: Meninos de 5-6 anos têm 2x mais chances de usar réguas ou medir ingredientes com os pais.
Brincadeiras espaciais: Não houve diferença em atividades como montar LEGO, sugerindo que o viés é específico para matemática.
“Os pais dizem apoiar a igualdade, mas suas ações em casa contam outra história.”
— Autores do estudo (Associação Americana de Psicologia)
Impacto no Longo Prazo
1. Desempenho Acadêmico
- Nos EUA, para cada 100 meninas com notas altas em matemática no SAT (vestibular), há 156 meninos (dados de 2023).
- No Brasil, meninas representam apenas 26% dos inscritos em Olimpíadas de Matemática (OBMEP, 2023).
2. Carreiras em STEM
- Mulheres são apenas 17,2% dos profissionais de engenharia e arquitetura nos EUA (Bureau of Labor Statistics, 2024).
- No Brasil, elas ocupam menos de 20% das vagas em TI, segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD).
Natureza vs. Criação: O Debate
O estudo não resolve a questão biológica, mas reforça evidências sobre socialização:
Viés inconsciente: Pais podem estimular mais meninos por associarem STEM a “habilidades masculinas”.
Efeito cascata: Meninas recebem menos incentivo → desenvolvem menos interesse → evitam carreiras técnicas.
Escola e sociedade: Aos 6 anos, crianças já absorvem estereótipos de professores e colegas.
Como Mudar Esse Cenário?
Para Pais e Responsáveis
Estimule atividades matemáticas igualitárias: Jogos de tabuleiro, receitas culinárias (medir ingredientes).
Desafie estereótipos: Evite frases como “Matemática é difícil para meninas”.
Destaque modelos femininos: Mostre exemplos como Katherine Johnson (cientista da NASA) ou Marijn Haverbeke (criadora do JavaScript).
Para Escolas e Políticas Públicas
Treinar professores para evitar vieses em correções e incentivos.
Programas como “Meninas na Ciência” (CNPq) ou Tem Menina no Circuito (USP).
Caso Real: O Poder da Intervenção
Em 2022, um projeto em escolas públicas de São Paulo aumentou em 40% o interesse de meninas por matemática após:
- Oficinas com engenheiras.
- Uso de jogos cooperativos (não competitivos).
Em conclusão: A desigualdade em STEM começa em casa — mas pode ser combatida com ações simples. Como destacam os pesquisadores:
“Se os pais realmente acreditam que matemática é para todos, precisam agir de acordo. Pequenas mudanças no dia a dia podem abrir portas para um futuro mais igualitário.”