Mulheres são as que mais realizam tarefas “domésticas” no ambiente de trabalho

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As funcionárias tendem a planejar festas, lavar a louça, fazer anotações – e outras atividades que não contribuem para uma promoção – com muito mais frequência do que seus colegas do sexo masculino.

Mesmo no ambiente de trabalho, ainda persiste a expectativa de que as mulheres sejam mais prestativas em tarefas consideradas “domésticas” do que os homens. Isso inclui uma série de atividades que, embora necessárias para o bom funcionamento do escritório, não têm impacto direto no crescimento da carreira, como organizar eventos, pedir comida ou fazer anotações durante as reuniões.

Essas responsabilidades são, em muitos casos, comparáveis ao trabalho doméstico tradicional, mas adaptadas ao ambiente corporativo. São funções administrativas e subvalorizadas que, apesar de exigirem tempo e energia, não são valorizadas o suficiente para resultar em uma promoção ou reconhecimento profissional. Um estudo realizado pelo Center for WorkLife Law e a Society of Women Engineers, revelou que as mulheres são solicitadas a realizar esse tipo de tarefa 30% mais vezes que os homens, especialmente no setor de engenharia, onde o desequilíbrio de gênero ainda é marcante.

A disparidade nas oportunidades no trabalho

Uma questão central que surge desse cenário é a percepção das mulheres sobre a igualdade no ambiente de trabalho. Elas relatam que têm 20% mais chances de sofrerem com o esgotamento em comparação aos homens, principalmente devido à sobrecarga de tarefas “domésticas”. Além disso, é mais comum que elas aceitem pedidos para se voluntariar, mesmo quando não são solicitadas diretamente. Este comportamento não é um reflexo da habilidade ou interesse das mulheres por essas atividades, mas sim o resultado de estereótipos de gênero profundamente enraizados, que esperam que as mulheres se mostrem mais prestativas, assim como são vistas no contexto familiar.

Para ilustrar essa dinâmica, um estudo realizado por pesquisadores norte-americanos analisou a disposição de participantes em realizar tarefas simples. Foi oferecido um pagamento de US$ 1 para a participação, com a condição de que, ao clicar em um botão, uma pessoa recebesse US$ 1,25, enquanto as outras duas participantes receberiam US$ 2. O estudo revelou que as mulheres tinham 48% mais chances de se voluntariar para pressionar o botão, mesmo sabendo que isso representaria uma desvantagem para elas. Este comportamento foi observado principalmente quando as mulheres estavam em grupos mistos, onde o estereótipo de que elas deveriam cuidar do bem-estar coletivo estava mais evidente.

A responsabilidade das mulheres na divisão de tarefas

No ambiente de trabalho misto, as mulheres perceberam que eram esperadas para realizar o necessário para que a tarefa fosse concluída. Os homens, por sua vez, se retraíam e, quando em grupos compostos apenas por homens, tomavam a frente na responsabilidade. Os pesquisadores concluem que as mulheres, ao estarem em grupos mistos, assumem voluntariamente as tarefas “domésticas” devido à expectativa social e aos estereótipos que as associam à responsabilidade de cuidar dos outros.

Evitar esse tipo de sobrecarga não é tarefa simples. As mulheres frequentemente enfrentam penalidades sociais se recusarem a ajudar. Estudos da Associação Norte-americana de Psicologia indicam que, enquanto um homem que não se oferece para ajudar é considerado “ocupado”, uma mulher que se recusa é vista como “egoísta”. Para contornar essa pressão, especialistas sugerem algumas estratégias práticas que as mulheres podem adotar para reduzir a carga de trabalho doméstico no escritório.

Estratégias para evitar o sobrecarregamento no trabalho doméstico de escritório

No livro Glass Walls: Shattering The Six Gender Bias Barriers Still Holding Women Back At Work, as autoras Amy Diehl e Leanne Dzubinski oferecem recomendações úteis. Quando solicitada a se voluntariar, uma mulher pode sugerir um sistema de rodízio de tarefas, por exemplo: “Eu fiz as anotações na última reunião, você poderia assumir desta vez?” ou “Eu limpei a geladeira nesta semana, que tal criarmos um rodízio para o futuro?” Essas estratégias ajudam a dividir a carga de maneira justa, sem que uma única pessoa assuma todas as responsabilidades.

Além disso, as autoras sugerem que as mulheres se comuniquem abertamente com seus superiores sobre como o excesso de trabalho doméstico pode afetar seu desempenho nas tarefas principais para as quais foram contratadas. Isso pode ajudar a esclarecer que a recusa em fazer essas tarefas não é um ato de egoísmo, mas uma tentativa de manter o foco nas responsabilidades que realmente impactam sua carreira.

A importância de aliados masculinos

Outro ponto crucial para a mudança é o papel dos aliados masculinos. Homens que testemunham a sobrecarga das mulheres com tarefas “domésticas” devem ser proativos e intervir, seja oferecendo ajuda ou levando a questão à liderança da empresa. Quanto mais homens estiverem envolvidos nessas tarefas, menos essas responsabilidades serão associadas unicamente às mulheres. Aliados podem ser fundamentais para quebrar os estereótipos e promover uma cultura organizacional mais equitativa.

As autoras também destacam que os homens podem ajudar não apenas realizando essas tarefas, mas também defendendo a mudança de mentalidade nas empresas. Quanto mais visível for o envolvimento dos homens nessas responsabilidades, mais equilibrada será a divisão das tarefas no futuro.

Conclusão

A divisão desigual de tarefas no ambiente de trabalho não é apenas uma questão de sobrecarga de atividades, mas uma manifestação de estereótipos de gênero que afetam a carreira das mulheres. Para alcançar a igualdade, é essencial que as mulheres se sintam empoderadas para recusar ou dividir essas responsabilidades, que aliás, não contribuem para o reconhecimento profissional. Com apoio de aliados e com estratégias eficazes, é possível reduzir o impacto desse “trabalho doméstico de escritório” e permitir que as mulheres se concentrem no que realmente pode impulsionar suas carreiras.

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